sexta-feira, 7 de julho de 2017

Duplicação da BR-101 no ES está atrasada mesmo com R$ 550 milhões arrecadados de pedágio

06/07/2017 - TV Gazeta

Para os motoristas, sensação de segurança não melhorou e os números de acidentes com mortes continuam assombrando: mais de 120 só no ano passado. Maior tragédia em estradas do ES aconteceu no mês passado.

Por Roger Santana

Em três anos, a concessionária ECO 101 arrecadou R$ 550 milhões com pedágio para fazer melhorias na BR-101, entre elas a de duplicação, que está atrasada. Para os motoristas, a sensação de segurança não melhorou nesse tempo e os números de acidentes com mortes continuam assombrando: mais de 120 só no ano passado. Um dos casos mais recentes é considerado a maior tragédia em estradas do Espírito Santo, quando 23 pessoas morreram na batida no trecho de Guarapari, em junho passado.

O diretor da concessionária disse que as obras estão em andamento, mas reconheceu que a empresa não vai conseguir entregar o que estava previsto: metade da BR-101 duplicada nos próximos dois anos.

A rodovia possui muitas curvas fechadas no trecho que corta o Sul do Espírito Santo, e foi em uma delas que a última tragédia aconteceu, no km 343. Uma carreta com pneus carecas e excesso de peso tombou na pista - entre outras irregularidades -, invadiu a contramão e bateu em um ônibus de viagem. Duas ambulâncias que estavam atrás do coletivo também bateram. Vinte uma pessoas morreram no local, a maioria carbonizadas, e duas em hospitais do estado.

 Acidente em Guarapari foi maior tragédia rodoviária do Espírito Santo (Foto: Bernardo Coutinho/ A Gazeta)
Acidente em Guarapari foi maior tragédia rodoviária do Espírito Santo (Foto: Bernardo Coutinho/ A Gazeta)

Segundo os motoristas, todos os dias há diversos flagrantes de irregularidades e o perigo é iminente. "Isso aqui é um pavio de pólvora, tem que trabalhar muito atenciosamente porque um vacilo é fatal", definiu o caminhoneiro João Batista Schuler.

O doutor em engenharia de tráfego, Rodrigo Rosa, explica que a BR-101 foi projetada para suportar um movimento menor. A rodovia não suporta o tráfego intenso de veículos pesados que existe hoje.
"A BR-101 e a BR-262 são rodovias das décadas de 1950 e 1960. Nessa época, o maior veículo que trafegava era na ordem de 15 metros e hoje estamos falando de caminhões de 30 metros. A gente falava de caminhões de até 15 toneladas, e hoje de 70. É inconcebível pensar em uma pista simples pra esse tipo de tráfego, sem contar o número de veículos na via, que aumentou absurdamente nos últimos 30 anos", disse.

Entenda a duplicação

O licenciamento para duplicação de 155 km do trecho Sul - entre Viana e a divisa com o Rio de Janeiro - se arrasta há seis anos e só agora deve ser liberado. A Eco 101, concessionária que administra a rodovia, tem até o dia 20 de agosto para pagar as taxas ao Ibama e receber a licença ambiental para começar a obra.

No trecho Norte, a autorização foi pedida em 2013, mas ainda não houve resposta. "A Eco 101 só fez a praça de pedágio, a pintura na faixa de rolamento e a capina na beirada da pista, de resto não fizeram mais nada", disse o motorista Alex da Silva.

A duplicação começou em apenas quatro pontos. São trechos curtos, em João Neiva, Ibiraçu, Anchieta e Itapemirim, além do contorno de Iconha, obras que já estão atrasadas. Ao longo da BR-101 no Espírito Santo, sete praças de pedágio estão no caminho dos motoristas.

Multas da Eco 101

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) é o órgão público que fiscaliza as privatizações de rodovias. Essa semana, o diretor geral participou de uma audiência pública na Câmara dos Deputados e disse que a agência já aplicou 85 multas à Eco 101.

O diretor da concessionária disse que as obras estão em andamento, mas reconheceu o atraso e disse que a empresa não vai conseguir entregar o que estava previsto: metade da BR-101 duplicada nos próximos dois anos.

BR-101 no Espírito Santo (Foto: Reprodução/TV Gazeta)
BR-101 no Espírito Santo (Foto: Reprodução/TV Gazeta)